31.1.14

Não agora. (II)


Ana chegou ao hotel e tirou os sapatos que estavam apertando todos os seus dedinhos, e parecia que ela tinha uns cem naquele momento de tanto que seus pés doíam. Ela entrou no banheiro para se livrar da maquiagem e do penteado, tomou um banho e vestiu uma camisa larga que batia em seus joelhos.
Imediatamente se lembrou de como Rodrigo debochava dela por essa mania de usar camisas masculinas para dormir. Ele sempre reclamava que tinha a sensação de que ela tinha um amante que esquecia as roupas na casa dela. Ana sempre rebatia que, se ele estava mesmo tão incomodado, que começasse a ceder suas próprias camisas para ela. Mas ele nunca caía.
Uma batida na porta fez com que Ana franzisse a testa. Ninguém sabia que ela estava hospedada naquele hotel e menos ainda naquele quarto. Apenas Rebeca.
Preocupada, ela correu para abrir a porta. E desejou, não pela primeira vez, que algo de muito ruim acontecesse com sua amiga.
- Oi - Rodrigo disse.
Ana quis perguntar o que ele fazia ali, mas as palavras não saíam de sua boca.
- Posso entrar?
Ela se afastou um pouco da entrada do quarto e permitiu que ele entrasse. Seu cérebro ainda estava se acostumando a vê-lo tão de perto e nada parecia funcionar direito dentro da sua cabeça.
- As camisas continuam sendo de ninguém? - ele apontou para o corpo dela e deu um sorriso pequeno.
Ana deu de ombros e se sentou na beira da cama. Não queria admitir para ele que sim, continuavam. Que ele pensasse que ela havia encontrado um argentino bonitão e se esquecido dele. Não se importava.
- Por que você veio, Rodrigo?
Ele também deu de ombros e respirou fundo.
- Você estava linda hoje.
- Obrigada.
Rodrigo sorriu e sacudiu a cabeça.
- A Argentina te fez bem. Não me lembro de você aceitando um elogio com tanta facilidade antes.
- É, as coisas mudam.
- É.
Rodrigo continuou passeando pelo quarto como se nunca tivesse visto um hotel na vida. Ana cruzou os braços e esperou. Ele fora até ali, então ele que falasse primeiro.
- Quando você volta?
- Amanhã.
- Tão rápido?
- Ahã.
- Ah...
Rodrigo parou na frente dela e respirou fundo mais uma vez.
- Senti sua falta.
- Mesmo? Eu jamais adivinharia. Você praticamente me obrigou a entrar naquele avião.
- As coisas mudam.
- É, mas às vezes tarde demais.
Rodrigo se ajoelhou e, sem mais nenhuma palavra, segurou o rosto de Ana entre suas mãos. Ela tentou se desvencilhar, mas só em pensamento. Não fez nada para sair de perto dele. Nada para se distanciar. Nada para evitar se machucar outra vez.
Veio um beijo e outro. E foi como se Ana estivesse de volta ao seu lugar favorito no mundo inteiro. Uma hora se transformou em nove, e ela ficou a noite inteira nos braços de Rodrigo. Era loucura, mas ela sabia que precisava daquela noite para sobreviver por mais alguns anos, talvez a vida toda, sem ele por perto.
Então ela memorizou cada sorriso, cada nuance, cada cheiro e cada abraço. Morria um pouco só de pensar em nunca mais vê-lo.
Na manhã seguinte, no entanto, pegou sua mala e não olhou para trás. A Argentina nunca parecera tão distante.

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