8.7.13

A bela e a fera.


A festa estava alegre e movimentada, mas uma dor de cabeça começava a me incomodar. Saí da sala, acenando um adeus para um e outro conhecido, e fui procurar por ele. Eu queria ir para casa. Nossa casa.
Enquanto caminhava pelo corredor que dava na cozinha, escutando a voz dele enquanto me aproximava, fui pensando em como essa mudança era gostosa e como eu não me cansava de dizer, pensar ou gritar: nossa casa. Finalmente.
- Ela é ótima, não me leve a mal, mas...
- Mas o quê? Quanto você bebeu? Trinta anos é uma idade difícil. Eu já passei por isso, sei bem como é.
- Não é a bebida, grandão. Estou falando sério. Você é tão maravilhoso, sabe? No sentido mais primitivo da palavra. Todas as minhas amigas se apaixonaram por você em algum momento da adolescência. Droga, acho que até eu me apaixonaria se não fosse sua irmã!
- Você enlouqueceu. Vou fazer um café preto.
- Me escuta, grandão. Tudo bem, você gosta dela e tudo, mas ela não é... bonita. Sabe? Ela não chega aos seus pés. Sempre que eu vejo vocês juntos, sinto que estou assistindo a uma versão invertida e macabra de "A bela e a fera".
Ele colocou a xícara vazia sobre a pia com tanta força que temi que houvesse se cortado.
- Você é minha irmã, e eu te amo, mas não vou suportar que você fale dela desse jeito.
- Eu já te disse que não é por mal! É só que ela...
- Eu sei que não chego aos pés do seu irmão.
Ambos se viraram na minha direção. Os olhos dela quase saltaram do rosto, os dele estavam tão cheios de amor que, apesar daquela situação horrível, eu sorri. Sorri para ele, como eu fazia desde o primeiro dia. Sorri para ele o meu melhor sorriso. Porque era para ele, e ele só merecia o melhor de mim.
- Escuta...
- Não vou dizer que está tudo bem - eu a interrompi. Minha voz estava calma e eu não sabia de onde aquilo vinha. Talvez dele. Talvez de nós. - Não está. Estou triste e chateada, mas eu sei que vou pegar seu irmão pela mão e a gente vai sair daqui juntos. Você pode até pisar um pouquinho no meu orgulho, mas isso ninguém vai tirar de mim.
Naquele momento, senti a mão dele na minha. Apertei tão forte como jamais tinha feito antes. Ele correspondeu com um abraço nos olhos azuis que eu cobraria mais tarde. Eu iria precisar, apesar das minhas palavras calmas e de todo o resto. Eu iria precisar muito.
- Espera! Eu não quis...
- Você quis - ele disse, ainda segurando minha mão. - Mas sei que vai cair em si assim que todo esse vinho sumir. Só espero que não seja tarde demais.
- Grandão!
Ele começou a me puxar para a saída. Encontramos seus pais na sala, mas ele apenas acenou na direção deles e continuou a andar. A voz da irmã dele ainda nos perseguia, mas ele andava a passos firmes e rápidos. Quando chegamos perto do carro, olhamos para a casa e vimos o pai dele impedindo que a irmã viesse atrás da gente. Suspirei fundo.
- Tudo bem?
- Tudo.
- Isso é o que você diz quando não está nada bem - ele murmurou, acariciando meu rosto com as pontas dos dedos. Eu nem percebera, mas, na verdade, ele estava secando as minhas lágrimas.
- Não sei o que pensar - dei de ombros.
- Nem eu - ele admitiu. - Nunca imaginei que minha irmã pudesse ser tão superficial assim.
- Deve ter sido o vinho. E a festa. Você reparou que ele não veio?
- É, reparei - ele me abraçou, deitando a cabeça no oco do meu ombro como se precisasse de consolo muito mais do que eu. - Mas não é desculpa. Nada é.
- Ela ainda está apaixonada por ele. E o Alberto parece não perceber.
- Ele percebe, acredite em mim.
- Mas doeu, sabe? Escutar aquelas coisas...
- Cela, - ele ergueu meu rosto e, na penumbra do estacionamento, olhou dentro dos meus olhos. - Doer? Tudo bem, pode doer. Doeu muito em mim também. Mas acreditar? Isso não. Nada do que ela disse faz qualquer sentido. Jura para mim que você sabe disso.
- Quem jura mente, e você sabe.
Ele deu um risinho e encostou a testa na minha.
- Então me promete que não vai acreditar.
- Eu prometo.
- Você é a mulher mais linda que eu já vi.
- Pedro...
- E eu sou o cara mais feliz do mundo por estar com você.
- Deus, como eu amo você!
- Eu também te amo, princesa.
Comecei a rir. Ele franziu a testa, mas seus lábios me presenteavam com o melhor dos sorrisos.
- Isso faz de você o meu príncipe - segurei-o firme pela cintura e lhe dei um beijo.
- Sou o que você quiser que eu seja, querida - ele brincou, abrindo a porta do passageiro para mim. - Vamos para casa?
- Para casa.

Um comentário:

  1. Ai, adorei isso! De verdade. Não sei, tem algo a ver com a coisa do patinho feio, talvez, mas achei bonito como ele simplesmente fincou pé pra irmã. Por que é dessas coisas, eu acho, que é feita o amor, né? Estar lá pra pessoa, mesmo pra outras pessoas. Se é que isso faz qualquer sentido.

    ResponderExcluir