30.1.13

Pouco ou nada de céu.


- Me larga - puxou em vão o braço do forte agarre.
- Não vou deixar você sair no meio da noite.
- Não consigo mais ficar perto de você. Por favor, me larga.
- São três da manhã. Tenha bom senso! - rosnou.
- Bom senso foi você quem não teve primeiro. Se não me queria fora daqui agora mesmo, porque não esperou até o amanhecer para despejar toda a sua raiva?
- Raiva? Quem falou em raiva? - indagou, a confusão brilhando nos olhos.
- Toda essa sua conversa de término soou como raiva para mim.
- Por quê?
- Você sente raiva. Raiva de mim.
- De onde você tirou isso? Não sinto raiva de você! - o choque de ser descoberto foi grande, e os dedos largaram o braço feminino.
- Sente. E me odeia.
- Você enlouqueceu! - gritou.
- Enlouqueci? Vê se não estou certa: você me odeia por te amar. É isso mesmo. Pelo amor que eu dedico a você, você me odeia. E sente tanta raiva de mim que não consegue nem admitir.
- Meu Deus... - passou as mãos pelos cabelos.
- Não, não Deus. Nada de céu está presente aqui em mim. Estou com raiva também. Você não sabe o que é ser privada de amor somente porque o outro é um covarde.
- Não queira me analisar. Não sou um dos seus pacientes. E quer saber? Pega a mala e vai embora.
- Seja noite ou seja dia, certo? - debochou.
- Apenas vá - suspirou.
- Vejo que a verdade atingiu algum ponto aí dentro. Covarde.
- Aproveita e leva também aquele guarda-chuva branco.
- Foi um presente. E presentes não se devolvem.
- Está chovendo - insistiu.
- Não me preocupo - deu de ombros. - Talvez essa água seja o pouco de céu que me faz falta - e saiu para sempre.



P.S.: Texto para a 3ª Edição Visual do Bloínquês.

Um comentário:

  1. *_* perfeito,sabe gosto muito do seu blog flor :)


    http://www.biaricaldy.blogspot.com.br/

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