18.12.14

De ano em ano.

- Já venho querendo ligar para você faz um tempinho.
- E por que só hoje? - ele perguntou.
- Você sabe - ela deu de ombros.
- É... - ele ficou em silêncio por alguns segundos. - Tenho uma premiere logo mais, então...
- Ah, claro. Só queria te parabenizar pelo filme. O mais assistido do ano, não é?
- E o terceiro da história do cinema no país.
Deu para notar que ele estava sorrindo, e ela quis, só por um segundo, estar lá para ver. Fazia muito, muito, muito tempo que não o via sorrir. Pelo menos não pessoalmente.
- Parabéns! Lembra de como eu dizia que você iria conquistar o mundo? Esse é só o começo.
- Você sempre teve muita confiança em mim - ele riu. - Ei, você viu o vídeo de aniversário?
- Sim - ela riu. Pelo menos cinquenta vezes. - Obrigada.
- De nada.
- Enfim... Vou deixar você voltar para os seus compromissos.
- Ok. A gente se fala? - Quando?
- Claro. Beijo.
- Outro.
Ele desligou e sorriu quando Tulia começou a esfregar a cabeça na sua mão querendo carinho. Brincou um pouquinho com a cadela e voltou a se deitar no sofá. Tirou o jogo do pause e tentou se esquecer do telefonema. Pelo menos até o ano seguinte.

26.8.14

Ricardo.


- Meu irmão sofreu um acidente.
Costumam dizer que o ar some de repente, que o mundo começa a girar num passo desenfreado, que a visão fica embaçada... Ela não acreditava em nenhuma dessas coisas. Até senti-las.
- Um acidente? - murmurou.
Ricardo segurou os braços dela para estabilizá-la. Haviam se conhecido há, o quê, dois minutos? Mas, se ela era importante para seu irmão, também o era para ele.

14.7.14

Talvez agora sim. (III)



O vento pegou Ana de surpresa e ela precisou juntar as coisas rapidamente. Pegando os papéis e o notebook, saiu da varanda e foi para o quarto, colocando tudo sobre a mesa que usava para trabalhar quando ficava deprimida e não queria se distanciar muito da cama.
Voltando para fora, Ana olhou para o céu e viu as nuvens negras que se aproximavam. A lâmpada da sala piscou e ela suspirou, irritada. Agora ficaria também sem luz, o que significava sem internet, o que queria dizer sem mais trabalho naquele dia.

31.1.14

Não agora. (II)


Ana chegou ao hotel e tirou os sapatos que estavam apertando todos os seus dedinhos, e parecia que ela tinha uns cem naquele momento de tanto que seus pés doíam. Ela entrou no banheiro para se livrar da maquiagem e do penteado, tomou um banho e vestiu uma camisa larga que batia em seus joelhos.
Imediatamente se lembrou de como Rodrigo debochava dela por essa mania de usar camisas masculinas para dormir. Ele sempre reclamava que tinha a sensação de que ela tinha um amante que esquecia as roupas na casa dela. Ana sempre rebatia que, se ele estava mesmo tão incomodado, que começasse a ceder suas próprias camisas para ela. Mas ele nunca caía.
Uma batida na porta fez com que Ana franzisse a testa. Ninguém sabia que ela estava hospedada naquele hotel e menos ainda naquele quarto. Apenas Rebeca.

24.1.14

Quando? (I)


- Eu não sei por que eu vim.
- Você veio porque é minha amiga, e eu precisava de você aqui.
- Rebeca...
- Não, Ana. Não quero escutar nada do que você tem a dizer. Não agora.
- Foi um erro, sabe?
- Vir ao meu casamento foi um erro? Muito obrigada.

25.12.13

Sobre neve, natal e retornos.



Camilla resmungou assim que pôs os pés na neve. Uma pena ter saído com botas de salto, porque ela sempre parecia um astronauta na Lua ao tentar andar. Mas, tudo bem, estava nevando, um frio gostoso, e ela ia comprar os presentes de Natal. Em cima da hora, como sempre.
Ao entrar na primeira loja, já tendo em mente qual seria o presente, ela o viu. E, dessa vez, diferentemente de um ano atrás, ela sorriu. Talvez o ano que tenha se passado houvesse mudado alguma coisa em sua vida. Talvez o pouco contato - que não era suficiente - tivesse feito alguma diferença.